quinta-feira, 25 de novembro de 2010

ATIVA-MENTE



Apagaram tudo pintaram tudo de cinza, a palavra no muro, ficou coberta de tinta.
Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, só ficou no muro, tristeza e tinta fresca.
"Nós que passamos apressados pelas ruas da cidade, merecemos ler as letras e as palavras de gentileza"
Por isso eu pergunto à você no mundo se é mais inteligente o livro ou a sabedoria.
O mundo é uma escola, a vida é o circo.
Amor, palavra que liberta já dizia o Profeta!
(Marisa Monte)



Bansky, um puta de um artista, que através de obras pintadas em muros propõe um pouco de senso critico e reflexivo. Críticas sociais, políticas e mensagens são transmitidas para quem passa pelas ruas principalmente em Bristol,mas estão sendo encontradas obras de Bansky em diversos cidades e países. O artista possui imagem desconhecida, muito se fala em seu nome e obras, porém a mídia ainda não conseguiu constata-lo (ufaa)!







Bansky dirige a abertura de um episódio de Os Simpsons, onde aparece operarios, inclusive crianças tarabalhando em situações precárias e de escravidão. Feliz com seu Nike iPhone? É possível que alguma criança vietnamita tenha colado seu solado chinesa tenha montado sua tela capacitiva multi-touch! (vídeo disponível no youtube).




(Einstein/Recicle o seu cérebro)

VIVA A CRIATIVIDADE E EXPRESSÃO DE IDÉIAS QUE ATIVAM A MENTE!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

conSUMIsmo


Eu vejo aqui as pessoas mais fortes e inteligentes.
Vejo todo esse potencial desperdiçado.
A propaganda põe a gente pra correr atrás de carros e roupas.
Trabalhar em empregos que odiamos para comprar merdas inúteis.
Somos uma geração sem peso na história.
Sem propósito ou lugar.
Nós não temos uma Guerra Mundial.
Nós não temos uma Grande Depressão.
Nossa Guerra é a espiritual.
Nossa Depressão, são nossas vidas.
Fomos criados através da tv para acreditar que um dia seriamos milionários, estrelas do cinema ou astros do rock.
Mas não somos.
Aos poucos tomamos consciência do fato.
E estamos muito, muito putos.

Você não é o seu emprego.
Nem quanto ganha ou quanto dinheiro tem no banco.
Nem o carro que dirige.
Nem o que tem dentro da sua carteira.
Nem a porra do uniforme que veste.
Você é a merda ambulante do Mundo que faz tudo pra chamar a atenção.

Nós não somos especiais.
Nós não somos uma beleza única.
Nós somos da mesma matéria orgânica podre, como todo mundo.

(Trechos do filme Clube da Luta, do personagem Tyler Durden)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Musicararaemliquidação


Peixes
Peixes são iguais a pássaros
Só que cantam sem ruído/som que não vai ser ouvido
Voam águias pelas águas
Nadadeiras como asas que deslizam entre nuvens
Nós vivemos como peixes :
Com a voz que em nós calamos ,
com essa paz que não achamos...
peixes pássaros pessoas
nos aquários ,nas gaiolas
pelas salas e sacadas
afogados no destino
de morrer como decoração das casas
Nós morremos como peixes >
O amor que não vivemos
Satisfeitos mais ou menos
Todas iscas que mordemos
Os anzóis atravessados , nossos gritos abafados ...
(Composição: Nenung )

Contracultura? filosofia? Religião? Critica reflexiva? Poesia? Musica?
Estamos falando [simples mente] sobre a banda gaúcha OS THE DARMA LÓVERS.
A primeira vez que ouvi tentei assimilar, pensei no ritmo de Cachorro Grande com a poesia do Teatro Mágico, mas ainda assim é impossível comparar e classificar o conjunto desta obra.
Através das poesias cantadas diversos saberes, idéias, ideais, nos são transmitidos com tamanha simplicidade e de forma tão singela que acaba soando como uma terapia alternativa, (para os que pensam como tal), caso contrario pode incomodar ‘certas-mente’.
[É fantástico o poder de se falar tantas coisas Tão sem nexo...É fantástico, o quanto nos satisfazemos Sempre com bobagens É fantástico como prosseguimos indo em busca de miragens. É tão trágico...Jogo tático de um mundo estático. A vida se encerrando em volta e aqui nós, sempre na mesma. Até o gato pulou a janela e aqui nós]
Acessando o site oficial da trupe encontrei: dois praticantes de meditação, descobrem que suas vozes somadas tem uma vibração extraordinária e decidem fazer canções sobre o que vivem e acreditam, do amor ao desapego, da impermanência à alegria para inspirar reflexão sem perder a leveza [...] algo como “os amantes do caminho interno”. Uma mixagem de folk na tradição Dylanesca com tempero brasileiro, rasgadas de rock psicodélico e colorido pop: estilo, ousadia & poesia.
Com uma boa pitada do budismo, da meditação, rock, psicodélia os integrantes possuem um arsenal de material rico produzido já há 10 anos, além das letras possuem um blog com excêntricos textos que nos tiram do comodismo, vale apena ler e muuucho.

Por Universo Paralelo Psique

domingo, 27 de junho de 2010

A HERANÇA DE JOSÉ SARAMAGO


“Hoje o mundo fica mais burro e mais cego”, essas são as palavras de Fernando Meirelles ao Jornal Hoje quando questionado sobre o que significa a perda de José Saramago. O escritor, argumentista, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português José de Sousa Saramago faleceu no dia 18 de Junho de 2010, deixando não apenas saudades, mas muita cultura, reflexão, exemplo de luta e um imenso conjunto de obras literárias. Uma perda intelectual, artística, humana e cívica irreparável!
Saramago, nasceu em uma família muito humilde, o que o privou de continuar os estudos, se formou apenas no ensino técnico, mas isso não impediu que continuasse a estudar, todas as noites visitava a biblioteca publica, onde passava horas debruçado sobre livros.
Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, era militante do Partido Comunista Português desde 1969. Guiado por ideais onde defendia o ser humano em sua essência fazia inumeras críticas contra a alienação e o conformismo estimulados pela "euforia" da mítica "globalização" capitalista, uma ilusão que esconde uma padronização do comportamento mental da humanidade de acordo com os valores ideológicos do imperialismo.
Foi alvo de varias perseguições, principalmente devido a luta internacional contra o terrorismo e o lançamento do livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e “Caim”. Em entrevista disse ainda que a Igreja não se importa com o destino das almas e que sempre procurou apenas controlar os seus corpos, o que resultou ainda mais perseguição.
Saramago escreveu inúmeros livros, poemas, crônicas. O que resultou inúmeras premiações, onde destacam-se o Prémio Camões (1995) - distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa; o Nobel de Literatura (1998) - o primeiro concedido a um escritor de língua portuguesa.
Vinha com freqüência ao Brasil, onde possui inúmeros amigos e seguidores, grande parceiro e amigo de Chico Buarque.
Saramago é conhecido por utilizar frases usando a pontuação de uma maneira não convencional (aparentemente incorrecta aos olhos da maioria). Os diálogos são inseridos nos próprios parágrafos, de forma que não existem travessões nos seus livros, a ponto do leitor chegar a confundir-se se um certo diálogo foi real ou apenas um pensamento. José Saramago não faz a distinção de personagens pelos seus nomes, mas sim pelas suas características e particularidades.
Uma grande obra escrita em 1995 foi o livro “Ensaio sobre a cegueira”, que mais tarde virou filme, dirigido por Fernando Meirelles.

A história do livro fala sobre uma cegueira branca que contamina toda uma cidade onde as pessoas passaram a seguir os seus instintos animais, ficando evidente o que é realmente o ser humano, sem o status, dinheiro, poder, e como o homem reage diante das necessidades, da incapacidade, do desprezo. Leva-nos também a refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, sendo esta a única não é privada da visão.

Segue aqui alguns trechos da obra:
“Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem”
“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.”
“Lutar foi sempre, mais ou menos, uma forma de cegueira, Isto é diferente, Farás o que melhor te parecer, mas não te esqueças daquilo que nós somos aqui, cegos, simplesmente cegos, cegos sem retóricas nem comiserações, o mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou”.

Por Universo Paralelo Psique.

domingo, 6 de junho de 2010

RETROVISOR



Por Fernando Anitelli

Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes

O relógio de pulso pula de uma mão pra outra
E na verdade nada muda
Nada muda nada

A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade
No meu retrovisor

A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar, prendas de quermesse

A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha

Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando do meu lado, nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu

Retrovisor nos mostra o que ficou, o que partiu
O que agora só ficou no pensamento

Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi, calçadas e avenidas

Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe ... que coisas são essas

*Fernando Anitelli é ator, compositor e músico. Integrante do grupo Teatro Mágico.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

UMA FILOSOFIA DE VIDA - NA NATUREZA SELVAGEM


Uma grande obra que passou além de despercebida pelo Oscar também pelos olhos da maioria das pessoas. Alvo de inumeras criticas, o livro e o filme NA NATUREZA SELVAGEM (Into the Wild), retrata a história de Chris McCandless, um rapaz que morava na Califórnia e após se formar na faculdade doou seus 24 mil dolares e abandonou o materialismo vazio da sociedade americana, inclusive a estabilidade da vida em uma família abastada, Chris partiu para uma caminhada, a sua caminhada, rumo ao Alasca, onde acreditava que por ser um lugar selvagem ele conseguiria viver realmente a essência humana, voltar ao natural, desfazendo-se das leis humanas e mediocres que tornaram o homem algo como "inerente a natureza". Durante seu percurso encontrou diversas pessoas onde compartilhou da sua filosofia de vida, ajudou elas e foi ajudado, pessoas nas quais contribuiram para o livro e obra cinematográfica.
Este é dirigido por ninguém menos que SEAN PENN, o protagonista (foto acima) é Emile Hirsch, na obra aparece diversas citações literárias, livros como Guerra e Paz, mostrando várias possibilidades de vida fora do sistema.

Aqui é bom que fique claro que McCandless existiu e não é somente um personagem de ficção. Sua história tornou-se conhecida através do artigo e livro publicado por Krakauer, que por sua vez precisou também de muito esforço para reconstituir os passos de Supertramp, nome criado por Chris para que ninguém o encontrasse.

Christopher McCandless (12 de fevereiro de 1968 - agosto de 1992)

"Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: acho que você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar. Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências."
(parte da carta que Chris escreveu para Wayne)

O filme ganhou trilha sonora especial do vocalista da banda Pearl Jam, o cantor Eddie Vedder,que foi convidado por Penn, a escolha parece ter sido acertada já que Vedder é conhecido por apoiar causas políticas, principalmente se essas causas vão de encontro a algum interesse maior que status e capital. Toda a trilha sonora do filme reflete a forma de vida que Chris levou, com seus ideais e modo de pensar:
"Todos que encontro, em gaiolas que compraram. Eles pensam sobre mim e minha vida errante, mas eu sou o que eles nunca pensaram. Eu tenho a minha indignação, mas sou puro em todos os meus pensamentos. Eu estou vivo..." (Guaranteed/Eddie Vedder)

" É um mistério para mim, nós temos uma ambição que concordamos. E você pensa que você tem que querer mais do que precisa. Até você ter tudo, você não estará livre"(Society/ Eddie Vedder).

http://www.youtube.com/watch?v=IWgxntibBtE&feature=related

E este é um dos poucos filmes que honram o livro, são poucas as informações não contidas no filme, vale muuito a pena assistir, e mais do que apenas ver um filme, é estimular um senso critico e uma reflexão acerca dos nossos valores e da forma como nos contaminamos com a burocracia criadas pelas sociedades.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Trilogia? Lars, Tarantino, Almodóvar

Inteligência, Cores, Intelectualidade, Paixão, Criticas, Reflexão, Cotidiano, Vida Real, Ficção. Uma base dessas 3 personalidades. Todos com suas próprias teorias e regras criadas, mas principalmente a quebra delas, quando necessário.

Quentin Tarantino alcançou a fama por seus roteiros não-lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência que trouxeram uma vida nova ao padrão de filmes familiares norte-americanos. Criou dois filmes de modo que um completasse o outro, em vez de uma mera continuação.

Almodóvar trata de situações cotidianas mas com tamanha intensidade e paixão que se torna polêmico e envolvente. Quase todos os filmes de Pedro Almodóvar são assim: acontecem logo de cara coisas incríveis e escabrosas. Com muita naturalidade e sem nenhum julgamento moral. Mas no fim os personagens que atuaram na trama fecham o filme fazendo um café da manhã ou conversando amenidades.

Lars tem a obsessão por chocar, provocar, para assim mostrar o que quer transmitir. Longe da passividade e apenas acúmulos de informação ele mostra de forma escancarada e genial suas idéias, e o telespectador longe da forma passiva e nada critica percebe nua e cruamente as grandes sacadas.
Os 3 usam artífices para expor nuances, desde a forma como abordar assuntos polêmicos, os diálogos intelectuais, o foco de filmagem, o cenário, ou a falta dele. Tudo tem seu objetivo e uma causalidade. Pedro Almodóvar tem toda sua vida em seus filmes, usa o humor de forma deslavada e tem a incrível habilidade de reunir fragmentos distantes da vida e atá-los em um só nó. Lars Von Trier Dogville apresenta claras referências visuais e influências de produção herdadas do movimento Dogma 95, manifesto cinematográfico que foi iniciado pelo próprio Lars Von Trier. Em Dogville temos a ausência de trilha sonora no filme, câmera na mão, não há deslocamentos temporais ou geográficos. E sobre tudo vai minuciosamente dissecando as crenças dos personagens, que na verdade são as nossas, e ao final tornam-se simplórias.Com Quentin Tarantino creio que ninguém consiga assistir a um filme e não sair ou amando ou odiando, assim como Lars mostra suas sacadas de forma escancarada, Tarantino usa violência, ficção e personagens que ao longo dos filmes possuem ligação além de proporcionar a cada dialogo, cena e filme muuuuita cultura pop, como mostra o curta com Selton Mello e Seu Jorge desvendando as teorias Tarantinas (http://www.youtube.com/watch?v=hY4n6DPIx_4).

Que a tua vida tenha as cores e a paixão de Almodóvar, a cultura de Tarantino e a sensibilidade de Lars e a inteligência de todos!

domingo, 4 de abril de 2010

XAMANISMO



Uma definição básica de um Xamã é relacionada às culturas primitivas que respeitam a natureza e todas suas coisas viventes. O xamanismo cobre práticas de cura de ancestrais primitivos e indígenas ao redor do mundo.
Xamanismo não vê todas as coisas como objetos fixos, como geralmente nossas convicções ocidentais sugerem, mas como padrões de energia correntes, constantemente fundindo, trocando, e vagueando separadamente em uma dança infinita. O Xamã é reconhecido como sendo uma pessoa com esta dança de energia, e como tal, está constantemente trocando energia com todas as coisas, vivendo em mudança constante. Nós nunca podemos ser exatamente como éramos a um minuto atrás, nós não podemos viver em nosso passado, nenhum poder reside no presente momento, temos que aceitar os padrões de energia que estão em nós.
Eu sinto que qualquer um que começou a buscar profundamente resgatar o contato perdido com a Mãe Terra, achando o lugar deles no grande círculo da vida, restabelecendo assim o seu próprio equilíbrio, é um " Xamã " moderno. Ser um Xamã não confere grandes poderes ou grande respeito. Mas, é uma responsabilidade para nós mesmos e nosso mundo, para curar e ensinar os outros a viverem em paz com todas as coisas.
A Cura Verdadeira é a arte de viver. Isto é, ninguém pode curar o outro verdadeiramente; nós temos que viver nossas próprias vidas. O Xamã reconhece, que nós estamos trocando energia com todas as coisas: pessoas, animais, plantas, pedras, tudo.

Do ponto de vista de um Xamã, o ritual nos leva a aprender a utilizar os métodos de cura promovendo o equilíbrio de nossas vidas, como também viver em respeito com todas as coisas (inclusive ele próprio), protegendo nossa Mãe Terra. Como exemplo eu faço um pequeno ritual matutino, ao me levantar, saudo o sol em honra da sua luz como uma fonte de vida. Ao anoitecer, saudo a lua em honra da sua luz que nos guia em nossos caminhos, ao honrar a luz começamos a desvendar o mistério sagrado da escuridão que nos faz lembrar da necessidade de termos uma direção interna que nós buscamos profundamente dentro de nós mesmos.
Outra parte de meu ritual matutino e lavar meu corpo com a água corrente (outra fonte de vida) para ajudar a limpar feridas passadas e conservar essa água, que alimenta o meu corpo e encoraja sua cura e crescimento, após esse banho ou antes faço uma meditação caminhando pela mata para clarear a minha mente.
Os xamãs carregam o conhecimento espiritual e da vida, passados oralmente, lembrando a sabedoria dos antepassados. Eles conduzem os ritos de passagem, encorajam a comunidade para enfrentar os desafios, aglutinam a consciência comunitária, criando uma identidade grupal. O xamã é um especialista do Sagrado. Ele é capaz de mover-se entre os diversos estados de consciência.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Melhor é o "Errado"!



Certo e errado são convençoes que confirmam-se com meia dúzia de atitudes.
Certo é ser gentil, respeitar os mais velhos, seguir uma dieta balanceada, dormir oito horas por dia, lembrar dos aniversários, trabalhar, estudar, casar e ter filhos, certo é morrer bem velho e com o dever cumprido. Errado é dar calote, rodar de ano, beber demais, fumar, se drogar, não programar um futuro decente, dar saltos sem rede. Todo mundo de acordo??
Todo mundo teoricamente de acordo, porém a vida não é feita de teorias. E o resto? E tudo aquilo que a gente mal consegue verbalizar, de tão intenso? Desejos, impulsos, fantasias, emoções. Ora, meia dúzia de normas preestabelecidas não dão conta do recado. Impossível enquadrar o que lateja, o que arde, o que grita dentro de nós.
Somos maduros e ao mesmo tempo infantis, por trás do nosso autocontrole há um desespero infernal. Possuímos uma criatividade insuspeita, inventamos musicas, amores e problemas e somos curiosos, queremos espiar pela fechadura do mundo para descobrir o que não nos contaram. Todo o resto.
O amor é certo, o ódio é errado e o resto é uma montanha de outros sentimentos, uma solidão gigantesca, muita confusão, desassossego, saudades cortantes,, necessidade de afeto e urgências sexuais que não se adaptam as regras do bom comportamento. Há bilhetes guardados no fundo das gavetas que contariam outra versão da nossa história, caso viessem a público. Todo o resto é o que nos assombra, as escolhas não feitas, os beijos não dados, as decisões não tomadas, os mandamentos que não obedecemos, ou que obedecemos bem demais – a troco de que fomos tão bonzinhos? Há o certo, o errado e aquilo que nos da medo, que nos atrai, que nos sufoca, que nos entorpece. O certo é ser magro, bonito, rico e educado. O errado e ser gordo, feio, pobre e analfabeto, e o resto nada tem a ver com estes reducionismos, e nossa fome por idéias novas, e nosso rosto que se transforma com o tempo, e nossas cicatrizes de estimação, nossos erros e desilusões.
Todo o resto é muito vasto. E nossa porra-louquice, nossa ausência de certezas, nossos silêncios inquisidores, a pureza e inocência que nos mantem vivas dentro de nos mas que ninguém percebe, so porque crescemos. A maturidade e um álibi frágil. Seguimos com uma alma de criança que finge saber direitinho tudo o que deve ser feito, mas que no fundo entende muito pouco sobre as engrenagens do mundo. Todo o resto e tudo aquilo que ninguém aplaude e ninguém vaia, porque ninguém vê.
(Martha Medeiros)

domingo, 31 de janeiro de 2010

Sinfonia de Outono


Toda vez que vejo uma folha de árvore envelhecida e alaranjada pelo tempo sinto uma certa dose de introspecção misturada com tristeza, vontade de me recolher, me sinto outono.
E o que tem a ver as folhas envelhecidas com outono e com o que sinto? O que o outono desperta na alma?
Segundo a Universidade de Wisconsin-Madison os pigmentos vermelhos chamados antocianinas que se acumulam nas folhas funcionam como uma proteção contra a radiação solar intensa que protegem o tecido que realiza a fotossíntese. Durante o outono, as árvores reabsorvem os nutrientes das folhas; para recolher o máximo de nutrientes antes que as folhas caiam, elas precisam da energia gerada na fotossíntese. É no outono que o tronco se alimenta das folhas e frutos para poder enfrentar o próximo inverno.
É no outono que ocorrem as grandes colheitas, visto que as frutas já estão bastante maduras e começam a cair no chão. Um cenário perfeito para reflexões, olhar para a primavera e o verão e se fortalecer pra o inverno. Olhar para dentro de si e buscar os erros e acertos, todas as experiências e a falta delas também e se fortalecer para o futuro.
As folhas que caem são lágrimas de experiências, de lembranças, da primavera colorida, do verão ardente que se foi, despedida, nostalgia.
Mas também é símbolo de amadurecimento, a folha já passou pelas diversas estações, a clorofila se esgotou e é hora de dar lugar a uma nova folha, e a folha velha irá nutrir o grande tronco. Algo já passou pelas metamorfoses necessárias e precisa simplesmente partir, acabar, renovar. Alguma coisa não cabe mais na sua vida, uma paixão esfriou, alguém partiu, você já conquistou o que mais almejava. Fim. E recomeço.
O renovar das estações é necessário à natureza, assim como o renovar da esperança, da tenacidade, das experiências, das amizades, do amor! [...] ciclo implacável da natureza. As folhas ao cair, evocam a brevidade dos nossos dias...o sofrimento das árvores despidas, imploram-nos uma introspecção e reflexão sobre este viver cíclico, sempre em transformação e numa velocidade alucinante [...]
Árvores despidas assim como fazer uma faxina na alma, jogar fora o que nos incomoda, cortar os excessos que afetam e sufocam, voltar a origem, ser o que é de fato.
Alguns frutos estão expostos na fruteira para serem admirados pela platéia, outros estão na geladeira para que durem por mais tempo, outros já alimentaram almas esfomiadas e há aqueles que após o tempo certo caíram ao solo para retornarem novos e fortes. Eis o outono.
Algumas folhas não ficam com tons avermelhado e alaranjado, já que sua espécie não permite, outras tentam se camuflar, se maquiar, para não se mostrarem maduras, velhas, já algumas ficam expostas o tempo exato para serem admiradas e então retornam ao solo. Eis o outono.

Todas as estações tem seus encantos e sua beleza, mas OUTONO é especial!


“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”.
Dalai Lama

(Autor Universo Paralelo)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Coisas de ZÉ



Quem nunca estremeceu ao ouvir o vozerão profundo e ao mesmo tempo rasgado do paraibano José Ramalho Neto? E quem nunca parou pra admirar suas letras de raízes nordestinas com uma boa pitada de literatura greco-romana?
Se for pra falar do Zé, teria que escrever paginas e paginas, já que sua vida é composta de muita intensidade e aventura.
Zé, além de cantor é compositor e com certeza um baita poeta, no qual dentre suas inúmeras canções (poesias) escreveu Avôhai e Chão de Giz, que particularmente são as letras que mais “mexem” comigo. E tornaram-se mais intensas ainda ao ouvi-las quando conheci o significado do próprio Zé em relação a elas.

Começando então pela canção CHÃO DE GIZ, o significado foi divulgado pelo próprio Zé Ramalho, e está disponível em alguns sites.

• http://www.youtube.com/watch?v=yTelSxYo_rk

Zé teve, em sua juventude, um caso duradouro com uma mulher casada, bem mais
velha, da alta sociedade de João Pessoa, na Paraíba. Ambos se conheceram num
Carnaval. Ele se apaixonou perdidamente por esta mulher, porém ela era casada
com uma pessoa influente da sociedade, e nunca iria largar toda aquela vida por
um “garoto pé rapado” que ela apenas “usava”. Após um tempo o caso tomou tamanha proporção que a mulher casada terminou o caso. Zé ficou arrasado por meses, e
chegou a mudar de bairro, pois morava próximo a ela. E, nesse período de
sofrimento, compôs essa canção. Conhecendo a história, tu consegues perceber a
explicação para cada frase da música:

“EU DESÇO DESSA SOLIDÃO, ESPALHO COISAS SOBRE UM CHÃO DE GIZ, HÁ MEROS DEVANEIOS TOLOS A ME TORTURAR” “Um de seus hábitos, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz também indica a fugacidade do relacionamento, facilmente apagado, mas, ao mesmo tempo algo que fica marcado. Devaneios, viagens, a lembrança dela a torturá-lo.”

“FOTOGRAFIAS RECORTADAS DE JORNAIS DE FOLHAS AMIÚDE” “Outro hábito seu era recortar e admirar as fotos dela que saiam nos jornais, pois ela era da alta sociedade e sempre estava nas colunas sociais.”

“EU VOU TE JOGAR NUM PANO DE GUARDAR CONFETES” “Pano de guardar confetes são aqueles balaios ou sacos típico das costureiras do nordeste, onde elas jogam restos de pano, papel. Aqui, ele diz que vai jogar as fotos dela fora num pano de guardar confetes, para não mais ficar olhando-as.”

“DISPARO BALAS DE CANHÃO, É INÚTIL POIS EXISTE UM GRÃO VIZIR” “Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil pois ela é casada com o tal figurão rico.”

“HÁ TANTAS VIOLETAS VELHAS SEM UM COLIBRI” “Aqui ele pega pesado com ela… há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri (jovem pássaro que a admire). Aqui ele tenta novamente convencê-la
simbolicamente, destacando a sorte dela - violeta velha - poder ter um colibri e
rejeitá-lo.

“QUERIA USAR QUEM SABE UMA CAMISA DE FORÇA OU DE VÊNUS” “Bem, aqui é a clara dualidade do sentimento dele. Ao mesmo tempo que quer usar uma camisa de força, para manter-se distante dela e não sofrer mais, queria também usar uma camisa de vênus, para transar com ela.”

“MAS NÃO VOU GOZAR DE NÓS APENAS UM CIGARRO” “Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para ‘gozar o tempo de um cigarro’. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro…”

“NEM VOU LHE BEIJAR GASTANDO ASSIM O MEU BATOM” "Para que beijá-la, gastando o seu batom (o seu amor), se ela quer apenas o sexo?”

“AGORA PEGO UM CAMINHÃO, NA LONA VOU A NOCAUTE OUTRA VEZ” “Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é inútil tentar. Mas, apaixonado como está, vai novamente “à lona” - expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas que também significa a lona do caminhão com o qual ele foi embora, ele teve que se mudar de sua residência para “fugir” desse amor doentio”.

“PRA SEMPRE FUI ACORRENTADO NO SEU CALCANHAR” “Auto-explicativo! Esse amor que, para sempre, irá acorrentá-lo, amor inesquecível.

“MEUS VINTE ANOS DE BOY, “THAT’S OVER, BABY”, FREUD EXPLICA” “Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse: Complexo de Édipo.

“NÃO VOU ME SUJAR FUMANDO APENAS UM CIGARRO” “Ele não vai se sujar transando apenas mais uma vez com ela, sabendo que nunca passará disso”.

“QUANTO AO PANO DOS CONFETES, JÁ PASSOU MEU CARNAVAL” “Eles se conheceram num carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que ele iria jogar num pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo que agora já passou seu carnaval, ou seja, terminou, passou o momento”.

“E ISSO EXPLICA PORQUE O SEXO É ASSUNTO POPULAR” “Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois só ele é valorizado - uma constatação amarga para ele, nesse caso”.

“NO MAIS ESTOU INDO EMBORA” “Bem, aqui é o fechamento. Após sofrer tanto e depois desabafar, dizendo tudo que pensa a ela na canção, só resta-lhe ir embora.

AVÔHAI
• http://www.youtube.com/watch?v=tm3KY1iwLWk&feature=related

Avôhai é uma dessas canções RIQUISSIMAS em todos os sentidos, é uma poesia tocante e uma canção mística e arrebatadora, afinal é um musicaço.
Quanto ao significado, segundo o Zé Ramalho, é uma palavra que ele inventou quando estava compondo a música. Ela significa avô e pai (Avôhai). É uma espécie de homenagem ao seu avô, que se chamava Raimundo. É possível também, que pelos conhecimentos medievais de Zé Ramalho ele tenha feito um jogo de palavras a partir do hebraico, tipo: “Avot” (Pais ou antepasados) + Chai ou “Hai” (Vive), isto é: Meu Avô Vive! E tem tudo a ver: Oh meu velho e invisível Avôhai Oh meu velho e indivisível Avôhai!
A letra em sí, é um apanhado de imagens nordestinas, lembranças de sua infância na tórrida Brejo da Cruz (”o brejo cruza a poaeira…”). Mas também tenta retratar a continuidade da espécie, passar a sabedoria de uma geração para a outra. O avô passa para o pai, que passa para o filho e aí por diante.
Outra coisa legal dessa música, é que, por ser de interior e andar muito pelos interiores (principalmente de Pernambuco), vê-se que existem cada vez mais Avôhais por ai. Muitas crianças estão crescendo tendo no avô a figura do pai. A quantidade de mães solteiras é enorme. E é o que ele retrata bem isso na música, não sendo apenas o caso dele.

Zé não é mesmo um Ser Transcendental?

(Autor Universo Paralelo e site analise de letras)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Para Dançar e Chorar


Visitando alguns blogs interessantes me deparei com alguns endereços de hits antigos mas que fazem total sucesso nas pistas de dança, a principio nunca tinha ouvido falar em tais nomes, mas após ouvir as musicas, não tinha como não lembrar. Eternos hits meeeesmo, e que a mim remeteram saudades, saudades talvez de um tempo não vivido, algo assim.

• Meredith Brooks - Bitch
http://www.youtube.com/watch?v=Cv-Qj552z3k

• Des'ree - You Gotta Be
http://www.youtube.com/watch?v=r32vw4260G4

• Des'ree - Life
http://www.youtube.com/watch?v=7cbpY65NTd8

PS: vale muuito a pena baixar os CD’s completos!
Vai ae alguns trechos de duas traduções dos links indicados acima, acho que a letra é para MULHER e é sobre MULHER. São letras que revelam nuances de nossa personalidade e que ao mesmo tempo nos fazem sentir desde uma Diva até a mais desgraçada e emputecida das mulheres (risos).

Meredith Brooks - Bitch

Odeio o mundo hoje, você é tão bom pra mim. Eu sei, mas não posso mudar. Tentei lhe dizer, mas você olha pra mim como se eu fosse um anjo caído, inocente e doce. Chorei ontem. Você deve ter se sentido aliviado por ver o lado mais suave. Posso entender como você esteve tão confuso. Não invejo você, Sou um pouquinho de cada coisa, Tudo dentro de uma só.
Sou uma puta, sou uma amante,
Sou uma criança, sou uma mãe,
Sou uma pecadora, sou uma santa,
Não realmente não me sinto envergonhada.
Sou seu inferno, sou seu sonho,
Não sou meio termo,
Você sabe que não gostaria que fosse de qualquer outro jeito.
Então, me aceite como sou.


Des'ree - You Gotta Be

Amores, eles podem te causar lágrimas... Vá em frente, liberte seus medos. Fique em pé e seja contada, não fique envergonhada por chorar. Você precisa ser...
Você precisa ser má
Você precisa ser ousada
Você precisa ser mais sábia
Você precisa ser dura
Você precisa ser mais forte
Você precisa ser calma,
Você precisa permanecer sã.
Tudo que sei, tudo que sei [é que] o amor vai salvar o dia. Proclame o que sua mãe disse, lendo os livros que seu pai lia. Tente solucionar os enigmas no seu próprio ritmo. Alguns podem ter mais dinheiro do que você. Outros têm uma perspectiva diferente.

(Autor Universo Paralelo)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ABAIXO O NATAL



Por que não festejo e me faz mal o Natal

Não festejo e me faz mal o Natal por diversas razões, algumas fracas, outras mais fortes. Primeiro, sou ateu praticante e, sobretudo, adulto. Portanto, não participo da solução fácil e infantil de responsabilizar entidade superior, o tal de “pai eterno”, pelos desastres espirituais e materiais de cuja produção e, sobretudo, necessária reparação, nós mesmos, humanos, somos responsáveis.
Sobretudo como historiador, não vejo como celebrar o natalício de personagem sobre o qual quase não temos informação positiva e não sabemos nada sobre a data, local e condições de nascimento. Personagem que, confesso, não me é simpático, mesmo na narrativa mítico-religiosa, pois amarelou na hora de liderar seu povo, mandando-o pagar o exigido pelo invasor romano: “Dai a deus o que é de deus, dai a César, o que é de César”!
O Natal me faz mal por constituir promoção mercadológica escandalosa que invade crescentemente o mundo exigindo que, sob a pena da imediata sanção moral e afetiva, a população, seja qual for o credo, caso o tenha, presenteie familiares, amigos, superiores e subalternos, para o gáudio do comércio e tristeza de suas finanças, numa redução miserável do valor do sentimento ao custo do presente.
Não festejo e me desgosta o Natal por ser momento de ritual mecânico de hipócrita fraternidade que, em vez de fortalecer a solidariedade agonizante em cada um de nós, reforça a pretensão da redenção e do poder do indivíduo, maldição mitológica do liberalismo, simbolizada na excelência do aniversariante, exclusivo e único demiurgo dos males sociais e espirituais da humanidade.
Desgosta-me o caráter anti-social e exclusivista de celebração que reúne egoísta apenas os membros da família restrita, mesmo os que não se freqüentaram e se suportaram durante o ano vencido, e não o farão, no ano vindouro. Festa que acolhe somente os estrangeiros incorporados por vínculos matrimoniais ao grupo familiar excelente.
Não festejo o Natal porque, desde criança, como creio para muitíssimos de nós, a festa, não sei muito bem por que, constituía um momento de tensão e angústia, talvez por prometer sentimentos de paz e fraternidade há muito perdidos, substituindo-os pela comilança indigesta e a abertura sôfrega de presentes, ciumentamente cotejados com os cantos dos olhos aos dos outros presenteados.
Por tudo isso, celebro, sim, o Primeiro do Ano, festa plebéia, hedonista, aberta a todos, sem discursos melosos, celebrada na praça e na rua, no virar da noite, ao pipocar dos fogos lançados contra os céus. Celebro o Primeiro do Ano, tradição pagã, sem religião e cor, quando os extrovertidos abraçam os mais próximos e os introvertidos levantam tímidos a taça aos estranhos, despedindo-se com esperança de um ano mais ou menos pesado, mais ou menos frutífero, mais ou menos sofrido, na certeza renovada de que, enquanto houver vida e luta, haverá esperança.


(Autor Mário Maestri*), no Espaço Acadêmico

* Historiador e professor do curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF, RS. Publicado em La Insignia.