domingo, 31 de janeiro de 2010

Sinfonia de Outono


Toda vez que vejo uma folha de árvore envelhecida e alaranjada pelo tempo sinto uma certa dose de introspecção misturada com tristeza, vontade de me recolher, me sinto outono.
E o que tem a ver as folhas envelhecidas com outono e com o que sinto? O que o outono desperta na alma?
Segundo a Universidade de Wisconsin-Madison os pigmentos vermelhos chamados antocianinas que se acumulam nas folhas funcionam como uma proteção contra a radiação solar intensa que protegem o tecido que realiza a fotossíntese. Durante o outono, as árvores reabsorvem os nutrientes das folhas; para recolher o máximo de nutrientes antes que as folhas caiam, elas precisam da energia gerada na fotossíntese. É no outono que o tronco se alimenta das folhas e frutos para poder enfrentar o próximo inverno.
É no outono que ocorrem as grandes colheitas, visto que as frutas já estão bastante maduras e começam a cair no chão. Um cenário perfeito para reflexões, olhar para a primavera e o verão e se fortalecer pra o inverno. Olhar para dentro de si e buscar os erros e acertos, todas as experiências e a falta delas também e se fortalecer para o futuro.
As folhas que caem são lágrimas de experiências, de lembranças, da primavera colorida, do verão ardente que se foi, despedida, nostalgia.
Mas também é símbolo de amadurecimento, a folha já passou pelas diversas estações, a clorofila se esgotou e é hora de dar lugar a uma nova folha, e a folha velha irá nutrir o grande tronco. Algo já passou pelas metamorfoses necessárias e precisa simplesmente partir, acabar, renovar. Alguma coisa não cabe mais na sua vida, uma paixão esfriou, alguém partiu, você já conquistou o que mais almejava. Fim. E recomeço.
O renovar das estações é necessário à natureza, assim como o renovar da esperança, da tenacidade, das experiências, das amizades, do amor! [...] ciclo implacável da natureza. As folhas ao cair, evocam a brevidade dos nossos dias...o sofrimento das árvores despidas, imploram-nos uma introspecção e reflexão sobre este viver cíclico, sempre em transformação e numa velocidade alucinante [...]
Árvores despidas assim como fazer uma faxina na alma, jogar fora o que nos incomoda, cortar os excessos que afetam e sufocam, voltar a origem, ser o que é de fato.
Alguns frutos estão expostos na fruteira para serem admirados pela platéia, outros estão na geladeira para que durem por mais tempo, outros já alimentaram almas esfomiadas e há aqueles que após o tempo certo caíram ao solo para retornarem novos e fortes. Eis o outono.
Algumas folhas não ficam com tons avermelhado e alaranjado, já que sua espécie não permite, outras tentam se camuflar, se maquiar, para não se mostrarem maduras, velhas, já algumas ficam expostas o tempo exato para serem admiradas e então retornam ao solo. Eis o outono.

Todas as estações tem seus encantos e sua beleza, mas OUTONO é especial!


“Uma árvore em flor fica despida no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude em velhice e o erro em virtude. Nada fica sempre igual e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem simultaneamente”.
Dalai Lama

(Autor Universo Paralelo)

sábado, 16 de janeiro de 2010

Coisas de ZÉ



Quem nunca estremeceu ao ouvir o vozerão profundo e ao mesmo tempo rasgado do paraibano José Ramalho Neto? E quem nunca parou pra admirar suas letras de raízes nordestinas com uma boa pitada de literatura greco-romana?
Se for pra falar do Zé, teria que escrever paginas e paginas, já que sua vida é composta de muita intensidade e aventura.
Zé, além de cantor é compositor e com certeza um baita poeta, no qual dentre suas inúmeras canções (poesias) escreveu Avôhai e Chão de Giz, que particularmente são as letras que mais “mexem” comigo. E tornaram-se mais intensas ainda ao ouvi-las quando conheci o significado do próprio Zé em relação a elas.

Começando então pela canção CHÃO DE GIZ, o significado foi divulgado pelo próprio Zé Ramalho, e está disponível em alguns sites.

• http://www.youtube.com/watch?v=yTelSxYo_rk

Zé teve, em sua juventude, um caso duradouro com uma mulher casada, bem mais
velha, da alta sociedade de João Pessoa, na Paraíba. Ambos se conheceram num
Carnaval. Ele se apaixonou perdidamente por esta mulher, porém ela era casada
com uma pessoa influente da sociedade, e nunca iria largar toda aquela vida por
um “garoto pé rapado” que ela apenas “usava”. Após um tempo o caso tomou tamanha proporção que a mulher casada terminou o caso. Zé ficou arrasado por meses, e
chegou a mudar de bairro, pois morava próximo a ela. E, nesse período de
sofrimento, compôs essa canção. Conhecendo a história, tu consegues perceber a
explicação para cada frase da música:

“EU DESÇO DESSA SOLIDÃO, ESPALHO COISAS SOBRE UM CHÃO DE GIZ, HÁ MEROS DEVANEIOS TOLOS A ME TORTURAR” “Um de seus hábitos, no sofrimento, era espalhar pelo chão todas as coisas que lembravam o caso dos dois. O chão de giz também indica a fugacidade do relacionamento, facilmente apagado, mas, ao mesmo tempo algo que fica marcado. Devaneios, viagens, a lembrança dela a torturá-lo.”

“FOTOGRAFIAS RECORTADAS DE JORNAIS DE FOLHAS AMIÚDE” “Outro hábito seu era recortar e admirar as fotos dela que saiam nos jornais, pois ela era da alta sociedade e sempre estava nas colunas sociais.”

“EU VOU TE JOGAR NUM PANO DE GUARDAR CONFETES” “Pano de guardar confetes são aqueles balaios ou sacos típico das costureiras do nordeste, onde elas jogam restos de pano, papel. Aqui, ele diz que vai jogar as fotos dela fora num pano de guardar confetes, para não mais ficar olhando-as.”

“DISPARO BALAS DE CANHÃO, É INÚTIL POIS EXISTE UM GRÃO VIZIR” “Ele tenta ficar com ela de todas as formas, mas é inútil pois ela é casada com o tal figurão rico.”

“HÁ TANTAS VIOLETAS VELHAS SEM UM COLIBRI” “Aqui ele pega pesado com ela… há tantas violetas velhas (como ela, bela, mas velha) sem um colibri (jovem pássaro que a admire). Aqui ele tenta novamente convencê-la
simbolicamente, destacando a sorte dela - violeta velha - poder ter um colibri e
rejeitá-lo.

“QUERIA USAR QUEM SABE UMA CAMISA DE FORÇA OU DE VÊNUS” “Bem, aqui é a clara dualidade do sentimento dele. Ao mesmo tempo que quer usar uma camisa de força, para manter-se distante dela e não sofrer mais, queria também usar uma camisa de vênus, para transar com ela.”

“MAS NÃO VOU GOZAR DE NÓS APENAS UM CIGARRO” “Novamente ele invoca a fugacidade do amor dela por ele, que o queria apenas para ‘gozar o tempo de um cigarro’. Percebe-se o tempo todo que ele sente por ela profundo amor e tesão, enquanto é correspondido apenas com o tesão, com o gozo que dura o tempo de se fumar um cigarro…”

“NEM VOU LHE BEIJAR GASTANDO ASSIM O MEU BATOM” "Para que beijá-la, gastando o seu batom (o seu amor), se ela quer apenas o sexo?”

“AGORA PEGO UM CAMINHÃO, NA LONA VOU A NOCAUTE OUTRA VEZ” “Novamente ele resolve ir embora, após constatar que é inútil tentar. Mas, apaixonado como está, vai novamente “à lona” - expressão que significa ir a nocaute no boxe, mas que também significa a lona do caminhão com o qual ele foi embora, ele teve que se mudar de sua residência para “fugir” desse amor doentio”.

“PRA SEMPRE FUI ACORRENTADO NO SEU CALCANHAR” “Auto-explicativo! Esse amor que, para sempre, irá acorrentá-lo, amor inesquecível.

“MEUS VINTE ANOS DE BOY, “THAT’S OVER, BABY”, FREUD EXPLICA” “Ele era bem mais novo que ela. Ele era um boy, ela era uma dama da sociedade. Freud explica um amor desse: Complexo de Édipo.

“NÃO VOU ME SUJAR FUMANDO APENAS UM CIGARRO” “Ele não vai se sujar transando apenas mais uma vez com ela, sabendo que nunca passará disso”.

“QUANTO AO PANO DOS CONFETES, JÁ PASSOU MEU CARNAVAL” “Eles se conheceram num carnaval. Voltando a falar das fotos dela, que ele iria jogar num pano de guardar confetes, ele consolida o fim, dizendo que agora já passou seu carnaval, ou seja, terminou, passou o momento”.

“E ISSO EXPLICA PORQUE O SEXO É ASSUNTO POPULAR” “Aqui ele faz um arremate do que parece ter sido apenas o que restou do amor dele por ela (ou dela por ele): sexo. Por isso o sexo é tão popular, pois só ele é valorizado - uma constatação amarga para ele, nesse caso”.

“NO MAIS ESTOU INDO EMBORA” “Bem, aqui é o fechamento. Após sofrer tanto e depois desabafar, dizendo tudo que pensa a ela na canção, só resta-lhe ir embora.

AVÔHAI
• http://www.youtube.com/watch?v=tm3KY1iwLWk&feature=related

Avôhai é uma dessas canções RIQUISSIMAS em todos os sentidos, é uma poesia tocante e uma canção mística e arrebatadora, afinal é um musicaço.
Quanto ao significado, segundo o Zé Ramalho, é uma palavra que ele inventou quando estava compondo a música. Ela significa avô e pai (Avôhai). É uma espécie de homenagem ao seu avô, que se chamava Raimundo. É possível também, que pelos conhecimentos medievais de Zé Ramalho ele tenha feito um jogo de palavras a partir do hebraico, tipo: “Avot” (Pais ou antepasados) + Chai ou “Hai” (Vive), isto é: Meu Avô Vive! E tem tudo a ver: Oh meu velho e invisível Avôhai Oh meu velho e indivisível Avôhai!
A letra em sí, é um apanhado de imagens nordestinas, lembranças de sua infância na tórrida Brejo da Cruz (”o brejo cruza a poaeira…”). Mas também tenta retratar a continuidade da espécie, passar a sabedoria de uma geração para a outra. O avô passa para o pai, que passa para o filho e aí por diante.
Outra coisa legal dessa música, é que, por ser de interior e andar muito pelos interiores (principalmente de Pernambuco), vê-se que existem cada vez mais Avôhais por ai. Muitas crianças estão crescendo tendo no avô a figura do pai. A quantidade de mães solteiras é enorme. E é o que ele retrata bem isso na música, não sendo apenas o caso dele.

Zé não é mesmo um Ser Transcendental?

(Autor Universo Paralelo e site analise de letras)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Para Dançar e Chorar


Visitando alguns blogs interessantes me deparei com alguns endereços de hits antigos mas que fazem total sucesso nas pistas de dança, a principio nunca tinha ouvido falar em tais nomes, mas após ouvir as musicas, não tinha como não lembrar. Eternos hits meeeesmo, e que a mim remeteram saudades, saudades talvez de um tempo não vivido, algo assim.

• Meredith Brooks - Bitch
http://www.youtube.com/watch?v=Cv-Qj552z3k

• Des'ree - You Gotta Be
http://www.youtube.com/watch?v=r32vw4260G4

• Des'ree - Life
http://www.youtube.com/watch?v=7cbpY65NTd8

PS: vale muuito a pena baixar os CD’s completos!
Vai ae alguns trechos de duas traduções dos links indicados acima, acho que a letra é para MULHER e é sobre MULHER. São letras que revelam nuances de nossa personalidade e que ao mesmo tempo nos fazem sentir desde uma Diva até a mais desgraçada e emputecida das mulheres (risos).

Meredith Brooks - Bitch

Odeio o mundo hoje, você é tão bom pra mim. Eu sei, mas não posso mudar. Tentei lhe dizer, mas você olha pra mim como se eu fosse um anjo caído, inocente e doce. Chorei ontem. Você deve ter se sentido aliviado por ver o lado mais suave. Posso entender como você esteve tão confuso. Não invejo você, Sou um pouquinho de cada coisa, Tudo dentro de uma só.
Sou uma puta, sou uma amante,
Sou uma criança, sou uma mãe,
Sou uma pecadora, sou uma santa,
Não realmente não me sinto envergonhada.
Sou seu inferno, sou seu sonho,
Não sou meio termo,
Você sabe que não gostaria que fosse de qualquer outro jeito.
Então, me aceite como sou.


Des'ree - You Gotta Be

Amores, eles podem te causar lágrimas... Vá em frente, liberte seus medos. Fique em pé e seja contada, não fique envergonhada por chorar. Você precisa ser...
Você precisa ser má
Você precisa ser ousada
Você precisa ser mais sábia
Você precisa ser dura
Você precisa ser mais forte
Você precisa ser calma,
Você precisa permanecer sã.
Tudo que sei, tudo que sei [é que] o amor vai salvar o dia. Proclame o que sua mãe disse, lendo os livros que seu pai lia. Tente solucionar os enigmas no seu próprio ritmo. Alguns podem ter mais dinheiro do que você. Outros têm uma perspectiva diferente.

(Autor Universo Paralelo)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ABAIXO O NATAL



Por que não festejo e me faz mal o Natal

Não festejo e me faz mal o Natal por diversas razões, algumas fracas, outras mais fortes. Primeiro, sou ateu praticante e, sobretudo, adulto. Portanto, não participo da solução fácil e infantil de responsabilizar entidade superior, o tal de “pai eterno”, pelos desastres espirituais e materiais de cuja produção e, sobretudo, necessária reparação, nós mesmos, humanos, somos responsáveis.
Sobretudo como historiador, não vejo como celebrar o natalício de personagem sobre o qual quase não temos informação positiva e não sabemos nada sobre a data, local e condições de nascimento. Personagem que, confesso, não me é simpático, mesmo na narrativa mítico-religiosa, pois amarelou na hora de liderar seu povo, mandando-o pagar o exigido pelo invasor romano: “Dai a deus o que é de deus, dai a César, o que é de César”!
O Natal me faz mal por constituir promoção mercadológica escandalosa que invade crescentemente o mundo exigindo que, sob a pena da imediata sanção moral e afetiva, a população, seja qual for o credo, caso o tenha, presenteie familiares, amigos, superiores e subalternos, para o gáudio do comércio e tristeza de suas finanças, numa redução miserável do valor do sentimento ao custo do presente.
Não festejo e me desgosta o Natal por ser momento de ritual mecânico de hipócrita fraternidade que, em vez de fortalecer a solidariedade agonizante em cada um de nós, reforça a pretensão da redenção e do poder do indivíduo, maldição mitológica do liberalismo, simbolizada na excelência do aniversariante, exclusivo e único demiurgo dos males sociais e espirituais da humanidade.
Desgosta-me o caráter anti-social e exclusivista de celebração que reúne egoísta apenas os membros da família restrita, mesmo os que não se freqüentaram e se suportaram durante o ano vencido, e não o farão, no ano vindouro. Festa que acolhe somente os estrangeiros incorporados por vínculos matrimoniais ao grupo familiar excelente.
Não festejo o Natal porque, desde criança, como creio para muitíssimos de nós, a festa, não sei muito bem por que, constituía um momento de tensão e angústia, talvez por prometer sentimentos de paz e fraternidade há muito perdidos, substituindo-os pela comilança indigesta e a abertura sôfrega de presentes, ciumentamente cotejados com os cantos dos olhos aos dos outros presenteados.
Por tudo isso, celebro, sim, o Primeiro do Ano, festa plebéia, hedonista, aberta a todos, sem discursos melosos, celebrada na praça e na rua, no virar da noite, ao pipocar dos fogos lançados contra os céus. Celebro o Primeiro do Ano, tradição pagã, sem religião e cor, quando os extrovertidos abraçam os mais próximos e os introvertidos levantam tímidos a taça aos estranhos, despedindo-se com esperança de um ano mais ou menos pesado, mais ou menos frutífero, mais ou menos sofrido, na certeza renovada de que, enquanto houver vida e luta, haverá esperança.


(Autor Mário Maestri*), no Espaço Acadêmico

* Historiador e professor do curso de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF, RS. Publicado em La Insignia.