segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O resgate da Mulher Selvagem



"Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem" Uma grande obra escrita por Clarissa Pinkola Estés após 20 anos de estudos aprofundados sobre folclore e os mais variados povos e culturas. Vai muito além de uma literatura psicológica jounguiana, é algo que toca a criatividade e espontaneidade de qualquer ser humano, toca o que cada um tem de sagrado e precisa ser resgatado. Esta obra além de transmitir um conhecimento imensurável nos trás um conhecimento talvez antes nunca atingido ou que até então encontrava-se afogado.
Por Clarissa P. Estés:
“Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.
As terras espirituais da Mulher Selvagem, durante o curso da história, foram saqueadas ou queimadas, com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros.
Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Tem experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação.Têm uma determinação feroz e extrema coragem. Posterior à Segunda Guerra Mundial, a dança mal conseguia ser tolerada, se é que o era, e por isso elas dançavam na floresta, onde ninguém podia vê-las, no porão ou no caminho para esvaziar a lata de lixo [...]
As questões da alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-la de uma forma mais adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobrá-la até que tenha um formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos detentores do consciente. Não. Foi isso o que já provocou a transformação de milhões de mulheres, que começaram como forças poderosas e naturais, em párias na sua própria cultura. Na verdade, a meta deve ser a recuperação e o resgate da bela forma psíquica natural da mulher.
Por meio da visão também temos uma percepção O arquétipo da Mulher Selvagem; através de cenas de rara beleza. Costumo sentir sua presença quando vejo o que no interior chamamos de pôrdo-sol divino. Senti que ela se mexeu dentro de mim quando vi os pescadores saindo do lago ao escurecer com as lanternas acesas e também quando vi os dedinhos dos pés do meu filho recém-nascido... Nós a vemos sempre que a vemos, o que ocorre por toda a parte.”

Clarissa é analista junguiana, cantadora, contadora de histórias. Tem doutorado em psicologia etnoclínica, estudo da psicologia de grupos em especial, de tribos. E PhD em Psicologia Clinica Junguiana.